quinta-feira, 17 de novembro de 2016

NUMA DOSE DE CAFÉ

numa dose de café

Sentido para a vida?
Não sente, não vê?
Pense, um instante pelo menos,
que respirar seja o sentido que anseia.
Inspire profundamente.
Expire.
De novo.
Prossiga.
A vida lhe entra pelo nariz
(sente?),
sai e volta outra vez,
sua máquina humana operando.
Permite que a vida lhe entre pelos olhos,
mostre-lhe ao redor a grandeza da natureza,
do que ela foi,
do que ela é,
do que você foi,
do que é,
do que será,
do que seremos,
do que faremos.

Basta continuar
caminhar, correr, sonhar,
lutar, sorrir, conquistar,
inspirar tanta vida,
expirar tanta vida,
enxergar tanta vida
quanto pudermos até
que não mais aguentemos
e a devolvamos toda
para quem nos emprestou.

Wiler Antônio do Carmo Jr. 

domingo, 13 de novembro de 2016

CAI A CHUVA



Cai a chuva
Passarinhada alegre
Cheiro de terra molhada a sabor do vento
Baixa a poeira
Rega as pastagens
Faz a festa dos que têm sede
Refresca o homem da terra que sofre com a impiedade do sol
Enche os rios com o passado que a terra experimentou
Lava aquilo que lá atrás ficou

Logo ela se vai
Começa um novo ontem para o amanhã
E logo ela retorna
Começa tudo outra vez
Uma renovação do mundo.



Wiler Antônio do Carmo Jr.


domingo, 30 de outubro de 2016

RARO

raro

Porque o raro salta aos olhos
e distrai a mente;
Faz voar e viajar por lugares distantes,
Adentrar florestas e desertos imensos,
Explorar os extremos de rios e mares,
Justificar o abstrato através do concreto,
Explicar o céu a partir da terra,
Entender o complexo com as mãos dadas à simplicidade,
Sustentar o óbvio observando o duvidoso,
Sentir a vida e ignorar a morte,
Incitar a guerra apontando para a paz,
Crer na grandeza com os olhos pairando sobre a miudeza.

Wiler Jr. - 20/10/2016

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

PEQUENAS COISAS

Ontem abri a lanchonete um pouco atrasado. A meninada do colégio ao lado ia chegando e já se acomodava no muro do lugar e nos bancos da praça logo em frente. Meu primeiro cliente foi um menino do colégio, tendo seus onze ou doze anos. Como de costume, perguntei do jeito que faço com os outros alunos:
- Que que cê manda, Pequeno?
- Oi - ele respondeu, timidamente. - Eu vou querer um bombom.
Peguei o bombom. O menino remexeu num bolso da mochila, tirou umas moedinhas e as ajeitou e contou em cima do balcão.
- Ah. Vou levar mais um.
Entreguei para ele e perguntei, brincando:
- É pra namorada?
- Não, não - ele respondeu, sorrindo; satisfação na voz. - É pro meu irmão. Hoje é aniversário dele.
Fiquei sem ação. Só respondi um "Então tá bom", sorri para ele, agradeci e recolhi suas moedinhas. Não tinha mais o que dizer ou fazer.
Ali, como em muitas outras vezes nesses meus vinte e poucos anos de vida, eu vi o valor das pequenas coisas superando o das grandes. "Pequenas coisas", a que me refiro aqui, não são os bombons, o tamanho ou o preço deles.
"Pequenas coisas", a que me refiro aqui, são a representação dos bombons e a intenção do menino ao comprá-los como um presente.
"Pequenas coisas", a que me refiro aqui, são as coisas que o menino pode ter feito para conseguir aquelas moedinhas para comprar algo para si, mas sacrificou seu desejo e comprou para o irmão a fim de agradá-lo no dia de seu aniversário.
"Pequenas coisas", a que me refiro aqui, são capazes de superar o maior dos presentes no que diz respeito a tamanho ou preço.
"Pequenas coisas", a que me refiro aqui, são a representação do amor e do respeito.


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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A CORRIDA DE SAPINHOS


Era uma vez uma corrida de sapinhos.


Eles tinham que subir uma grande ladeira e, do lado havia uma grande multidão, muita gente que vibrava com eles.

Começou a competição.

A multidão dizia:

– Não vão conseguir! Não vão conseguir!

Os sapinhos iam desistindo um a um, menos um deles que continuava subindo. E a multidão a aclamar:
– Não vão conseguir! Não vão conseguir!
E os sapinhos iam desistindo, menos um, que subia tranquilo, sem esforço.
No final da competição, todos os sapinhos desistiram, menos aquele.
Todos queriam saber o que aconteceu, e quando foram perguntar ao sapinho como ele conseguiu chegar até o fim, descobriram que ele era SURDO!

Moral:
Quando queremos fazer alguma coisa que precise de coragem não devemos escutar as pessoas que falam que você não vai conseguir. Seja surdo aos apelos negativos.

Fábula escrita por Monteiro Lobato.


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quinta-feira, 21 de julho de 2016

FRIAGEM


Clarão no céu.
Ela, tão clara que as estrelas sucumbem à sua luz,
Tão bela que os olhos, em vislumbre, cintilam sem se mover,
Tão sublime que até os corações mais duros se amolecem,
Tão grande que até os que se sentem maiores que os outros se sentem pequenos.

Sob ela, a imensidão do nosso chão
Assolada por um frio cruel, quente a seu modo.
A cerração de friagem se arrastando de uma banda para outra,
Separando e juntando de novo,
Espalhando seu gélido calor por sobre os morros e campos, riachos e lagos,
Encolhendo os seres em seus ninhos,
Fazendo eriçarem-se pelos e penas,
Murcharem as folhas e secarem as ervas,
Sumirem os botões e as flores,
Gelarem tudo do nariz aos pulmões a cada suspirar.
Ato, esse, vislumbrado,
Bem à vista da silhueta redonda que espia lá de cima, imponente.

Grilos no mato? Poucos.
Sapos no brejinho? Nem pensar!
Cachorros latindo? Covardia debaixo de pelos, diria um.
Nem os compadres saíram para prosear.

E lá cai a madrugada.
Madrugada escondida, oculta, invisível.
Nada à vista senão a brancura perambulante da cerração densa,
Um véu de ilusão se arrastando pela noite.

Wiler Jr. - 21/07/2016

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