quinta-feira, 21 de julho de 2016

FRIAGEM


Clarão no céu.
Ela, tão clara que as estrelas sucumbem à sua luz,
Tão bela que os olhos, em vislumbre, cintilam sem se mover,
Tão sublime que até os corações mais duros se amolecem,
Tão grande que até os que se sentem maiores que os outros se sentem pequenos.

Sob ela, a imensidão do nosso chão
Assolada por um frio cruel, quente a seu modo.
A cerração de friagem se arrastando de uma banda para outra,
Separando e juntando de novo,
Espalhando seu gélido calor por sobre os morros e campos, riachos e lagos,
Encolhendo os seres em seus ninhos,
Fazendo eriçarem-se pelos e penas,
Murcharem as folhas e secarem as ervas,
Sumirem os botões e as flores,
Gelarem tudo do nariz aos pulmões a cada suspirar.
Ato, esse, vislumbrado,
Bem à vista da silhueta redonda que espia lá de cima, imponente.

Grilos no mato? Poucos.
Sapos no brejinho? Nem pensar!
Cachorros latindo? Covardia debaixo de pelos, diria um.
Nem os compadres saíram para prosear.

E lá cai a madrugada.
Madrugada escondida, oculta, invisível.
Nada à vista senão a brancura perambulante da cerração densa,
Um véu de ilusão se arrastando pela noite.

Wiler Jr. - 21/07/2016

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