sexta-feira, 4 de julho de 2014

OS SONS DO SILÊNCIO

Na terça-feira passada fui dormir tarde, o que não tem sido algo raro por esses dias; mas nesse dia fui dormir mais tarde do que costumo ir. Fui fechar a janela do quarto antes de me deitar, debrucei-me sobre o parapeito e olhei para fora. Moro numa rua em construção e, por isso, ainda não existem postes de iluminação. Àquela hora, as luzes que se podia ver vinham dos postes da rua ao lado, de um bairro próximo e um mais distante e das estrelas. Mas o que me chamou a atenção não foram as luzes, mas o silêncio; a quietude da madrugada. Fechei os olhos e apurei os ouvidos. Aos poucos fui conseguindo perceber os sons que existiam naquele silêncio: o som fraco do cricrilar de grilos, do coaxar de sapos no brejinho ao longe e do latir de cães; o farfalhar das folhas das árvores sob ação do vento.

Ali fiquei por um bom tempo. O silêncio e eu. Era uma sensação boa. Uma paz que parecia sem fim. Depois de um dia e parte da madrugada cheios, aquele silêncio era um conforto. Uma coisa tão simples e, ao mesmo tempo, tão forte, com tanto efeito.

Na tarde do dia seguinte, meu sobrinho quis ir até o lago que existe no bairro em que ele morou até pouco tempo atrás. E ao lago fomos nós. Lá experimentamos a mesma sensação que eu tinha experimentado na noite anterior. Paramos de conversar e nos concentramos em escutar o que acontecia à nossa volta. Podíamos escutar os pássaros cantando, o vento deslizando sobre a água e fazendo farfalhar as folhas dos eucaliptos e os arbustos. Paz e uma enorme vontade de continuar ali; de ficar sentado à beira do lago e escutar o que o silêncio daquele lugar teria para trazer à tona no decorrer do resto da tarde e durante a noite; de observar o que a simplicidade de certas coisas da natureza teria para ensinar naquele dia; enfim, de tentar decifrar por que essa simplicidade chama tanta atenção e fascina.


Lago Soledade, em Ouro Branco, Minas Gerais.

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