quinta-feira, 7 de novembro de 2019

VASTIDÃO

vastidão
Mirante das Mangabeiras, Belo Horizonte, MG. Foto: @wilerjrxd

Sob a vastidão do céu,
a vastidão dos vales
em meio às montanhas alterosas
cobertas por lavouras de prédios e casas
e por ruas e mais ruas,
onde ruge o clamor da vida cotidiana
de um povo que muito faz correr
e, espero, muito faz viver.

Wiler Antônio do Carmo Jr.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

O MENINO E O FOGO


o menino e o fogo

Baseado em uma história real

Era um meio de tarde quente quando o menino saiu de sua casa e cruzou a estradinha, tendo como rumo a Casa Grande. Lá, parou em frente ao paiol, que ficava na quina do éle que a casa formava em meio ao mato baixo. 
Na Casa Grande parecia não estar ninguém. Os trabalhadores da fazenda, que moravam nas casinhas que ladeavam a Casa, estavam ocupados nas lavouras de milho, feijão e arroz, que ficavam além das casas, e suas mulheres, dentro de casa ou à beira do Córrego do Balão, lavando roupas. 
A porta do paiol estava apenas cerrada, e o menino sabia disso. Com os pés descalços subiu os dois degraus de madeira que davam para a porta e deu nela um empurrão com as pequenas mãos. A luz do dia entrou e revelou uma montanha de espigas de milho secas. 
Os olhos do menino brilharam enquanto ele arrastava os pezinhos pelo estrado em direção ao que para ele era uma maravilha. Aquela montanha tinha mais de duas vezes a sua altura, quase alcançando o teto do cômodo.  
Boquiaberto, ficou por alguns minutos olhando aquele mundaréu de espigas. De repente, voltou a si; tirou do bolso uma caixinha de fósforos e dela o primeiro palito que seus dedinhos encontraram. Era a primeira vez que acendia um palito de fósforo, mas sabia que sabia como acendê-lo; já tinha visto o pai acendendo milhares deles. Tão orgulhoso estava de tanto conhecimento que achava ter na cachola, que seu coração nem palpitou ao se aventurar naquele grande pequeno feito. Agachou-se ao pé da alta montanha e riscou a lixa da caixa com a ponta do palito de fósforo. Quando as pequenas faíscas geradas pelo atrito deram vida à pequena chama, o menino a aproximou da palha de uma das espigas. A chama dominou aquela espiga rapidamente e se espalhou para as que estavam em volta. 
Quando o fogo se alastrou até a metade da montanha, o menino arregalou os olhos e seu coração palpitou. Com um pulo alcançou a porta, com outro desceu a escada e foi se esconder atrás de uma árvore do outro lado da estrada. 
A mulher que viu o menino sair do paiol foi a mesma que correu para o lado do Córrego e das lavouras em busca de ajuda. Imediatamente, as mulheres das outras casas pegaram seus baldes de madeira e seguiram pelo mesmo caminho que a primeira. Os homens que estavam nas lavouras deixaram de lado as enxadas, tomaram das mulheres os baldes e os encheram de água no Córrego. Foram muitas idas e vindas com baldes cheios e vazios até que se extinguissem as labaredas que já lambiam por fora as telhas de barro que cobriam o paiol. 
Quando a noite chegou, com o fogo apagado e o grande aperto passado, o caso já era motivo de risadas, apesar da perda de todo o milho que estava no paiol. A mulher que vira o culpado pelo fogo contou ao pai dele, que era um dos que estavam nas lavouras, para onde ele correra, e foi lá mesmo, atrás da árvore, que ele foi encontrado. 
O pai chegou rindo em vez de ralhando, enquanto o menino, encolhido junto ao tronco da árvore, tremia dos pés à cabeça. Agachou-se em frente ao filho e perguntou: 
- Meu filho do céu, como foi que você pôs um fogo grande daquele jeito? 
O menino levantou uma mãozinha trêmula - a mesma que segurara o palito de fósforo -, distanciou um pouco o polegar do indicador e respondeu: 
- Mas, pai, o fogo que eu pus era desse tamanhozinho aqui, ó. 


quinta-feira, 21 de março de 2019

ENLACE

enlace


O céu sem nuvens salpicado de estrelas
com relâmpagos a clarear o horizonte
anuncia um próximo dia de muito calor.

Debaixo de tal maravilha
dois corpos num abraço silencioso
anunciam a presença do amor.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

MOVIMENTO

movimento
Foto tirada em Olaria, na zona rural de Ouro Branco/MG. Foto: @wilerjrxd


Numa clareira serena,
o frescor de uma manhã
que parece não brotar
dos últimos suspiros do verão
que dentro em pouco se vai.

Mas o sol incandescente,
implacável como é,
lá de cima assola a terra;
vejo seus raios penetrarem
por entre troncos e galhos e folhas
e controlarem cada milímetro percorrido
pela brisa que areja esta manhã,
a mesma que das bandas de cá
leva os cheiros e os gostos e os sons
e vai se misturar com as que trazem
os das tantas bandas de lá.

E com esses movimentos singelos,
ao mesmo tempo abruptos,
o movimento do mundo se faz,
passo a passo, tempo a tempo.


Wiler Antônio do Carmo Jr., 24/02/2019.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O CANTO DA FIGUEIRA-BRANCA

O CANTO DA FIGUEIRA-BRANCA
A figueira-branca de Ouro Branco/MG. Foto: @wilerjrxd


Escutei a figueira-branca cantar.
Corri a pegar papel e caneta
antes que aquela proeza acabasse.

Como pode cantar uma árvore?

Folhas, galhos, troncos, pendões cantam?
Vasos de seiva e raízes grossas gorjeiam?

Os sons, as vozes, os gritos, os cantos

me chegavam aos ouvidos vindos de todos
os seus lados, vencendo até mesmo os ruídos
inconvenientes e desgostosos dos veículos na rua.

Eram chiados ora oscilantes, ora constantes,

como as cigarras bem sabem pronunciar;
gritos agudos e compulsivos, ao mesmo tempo
reclamões e gargalhosos, bem parecidos com
aqueles das maritacas e dos papagaios;
sons harmônicos e doces,
tais quais os esbanjados aos ares pelos canarinhos;
sons mais austeros e curtos,
daqueles que só o bem-te-vi sabe soltar;
gorjeios dançantes e envolventes,
daqueles que saem pelo bico azul do sanhaço-cinzento;
sons mansos, breves e tímidos,
assim mesmo como os do pardal
(que atrás deles camufla sua esperteza sorrateira
em invadir as cozinhas das casas e beliscar
os pães e bolos mal escondidos);
gargarejos agudos e inebriantes,
que só o papa-capim sabe desatar dos minúsculos pulmões;
murmúrios roucos e contidos, quase inaudíveis,
como os da bela juriti.

Todos se misturavam

e se tornavam um só canto,
um só gorjear com frequências inconstantes,
o que singularizava aquela atônita beleza.

O canto da figueira-branca

me envolveu por toda aquela tarde,
até que as nuvens brancas empreteceram,
uma chuva forte ameaçou desabar
e a grande árvore se calou.

Wiler Antônio do Carmo Jr.


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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

DOS MAIS VELHOS

dos mais velhos
Foto: @wilerjrxd


Dos mais velhos
escuto as histórias de vida
e aprendo com seus erros
seus fracassos
seus acertos
suas vitórias
suas lições
a não cometer os mesmos erros
não viver os mesmos fracassos
fazer os meus próprios acertos
conquistar minhas próprias vitórias
ensinar minhas próprias lições.



Wiler Antônio do Carmo Jr.

- Conheça meu livro o museu.