terça-feira, 21 de agosto de 2018

LIBERTANDO UM PASSARINHO DE GAIOLA (SETTING A CAGE BIRD FREE)



na porta aberta para eu sair
vejo as mesmas grades
que me mantêm aqui

preso desde deixar o ovo
o que fazer num mundo
que eu nunca vi?

--

in the door opened for me to leave
i see the same bars
that here keep me

caged since leaving the egg
what to do in a world
i never came to see?


Wiler Antônio do Carmo Jr.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

INOCENTE (INNOCENT)

inocente

Logo cedo, um coraçãozinho inocente,
apertado, pesado, apreensivo, estremecido pelo medo.
Vejo as lágrimas lhe brotarem dos olhos assustados,
as mãos tentarem contê-las
e lábios tremerem incessantemente
enquanto me conta,
com a voz fraca e entrecortada por soluços,
o que acontece em casa se faz 'algo errado',
e me confidencia o que realmente pode ter feito
para estar alimentando o medo
que eu vejo neste momento.

De repente, as lágrimas já secas,
as mãos nos bolsos da blusa de frio,
o coração vai à porta e se põe
a observar a esquina ao pé do morro,
de onde espera ver surgir sua mãe,
que vai seguir para a porta da escola
e por ela entrar para cumprir o cúmulo do medo que o aborda:
o julgamento de seu comportamento.

A passos curtos mas rápidos,
deixa atrás de si a porta, volta para diante do balcão
e me mostra um sorriso de problema quase resolvido
enquanto cogita, em voz alta,
mais consigo mesmo do que comigo,
uma fuga para a casa de uma avó ou de uma tia;
mas logo volta a estremecer ao pensar
que, uma hora ou outra, querendo ou não,
terá que voltar para casa
e lá encontrará o pai e a mãe,
que têm uma memória muito boa
para guardar os atos ainda não corrigidos dos filhos.

Proponho que vá encontrar a mãe no caminho,
ou entrar para a escola quando a vir chegar,
e conversar, expor aquelas explicações dadas a mim
também a ela e à pessoa incumbida de tratar
o comportamento dos alunos.
'Mas ela não vai acreditar em mim!
Ela não vai entender!', escuto em resposta.
Eu insisto; não adianta.
'Mas você não conhece meu pai:
depois que minha mãe bate,
mais tarde, quando meu pai chega,
é a vez dele.'

Ainda tento insistir um pouco mais, mas é em vão;
tal inocente coração já tem em si,
e pode ser que tenha para sempre,
a opinião de que é difícil,
ou mesmo impossível,
encontrar, apenas pelo diálogo,
uma solução.

Wiler Antônio do Carmo Jr.

______________

'o museu' ('the museum'), em formato digital (eBook) e/ou formato físico: http://pensamentosprofundos.com/2018/06/o-museu-amazon-store.html

terça-feira, 26 de junho de 2018

CAMADA DE POEIRA (LAYER OF DUST)


camada-de-poeira


Com a fina camada de poeira que a cobre,
como parte de um todo que dela depende,
a pequena folha experimenta uma perda,
pois os raios de luz que chegam do sol
não a tocam por inteiro,
e ela não cumpre sua função tão bem como deveria;
mas experimenta também um ganho:
a proteção do todo contra algo ruim
que pode chegar pelo ar,
soprado pelo vento,
assim como fez a própria poeira.

-

With the thin layer of dust that covers her,
as part of a whole that on her depends,
the little leaf experiences a loss,
for the rays of light that arrive from the sun
do not touch her entirely,
so she can not perform her task as well as she should;
but she also experiences a gain:
the protection of the whole against something bad
that may come through the air
blown by the wind
just as did the dust itself.

-

Wiler Antônio do Carmo Jr.





______________

Adquira meu livro 'o museu' ('the museum'), em formato digital (eBook) e/ou formato físico: http://pensamentosprofundos.com/2018/06/o-museu-amazon-store.html

domingo, 24 de junho de 2018

'o museu' está disponível na Amazon

'o museu' está disponível na Amazon / 'the museum' is available on Amazon



"o museu" é uma coletânea de poemas que escrevi durante a minha adolescência, pouco depois de descobrir que o papel era (e continua sendo) um grande amigo, simplesmente por não reclamar ou zombar das palavras e dos sentimentos que são entregues a ele.
Há pouco tempo, resolvi editá-la e publicá-la independentemente. :)


EDIÇÃO EM PORTUGUÊS | PORTUGUESE EDITION
eBook - Amazon Brasil: https://amzn.to/2MfvuQ4
Livro físico (paperback) - Amazon Brasil: https://amzn.to/2AqDcVN

EDIÇÃO EM INGLÊS | ENGLISH EDITION
eBook - Amazon Brasil: https://amzn.to/2Mlv7Tj
eBook - Amazon US: https://amzn.to/2yHZCkp
Livro físico (paperback) - Amazon US: https://amzn.to/2MUzV39

domingo, 8 de abril de 2018

BELEZA AO ACASO

beleza ao acaso
Borboleta com a asa esquerda quebrada. Foto: @wilerjrxd


Aparentes riscos feitos com gizes de cera.
Um punhado de cores
(pelo menos aos meus olhos limitados)
expostos ao mundo depois de semanas
em um casulo, às mãos da metamorfose.
Fragilidade e leveza que assustam.
Uma asa quebrada.
Vulnerável.
A confiança num ser que sem motivos
pode lhe fazer mal.
E perambula pelos dedos,
pela palma e pelas costas da mão.
Para e me olha com suas lentes transparentes,
marcadas no fundo por quadrados pretos e brancos.

Será que se pergunta quem sou? o que posso fazer?
Será que me julga confiável (ou não) pela cor da minha pele?
dos meus olhos? dos meus cabelos?
por minha natureza sexual? por minha classe social?
por minhas crenças? meus pensamentos? minhas ideias?
por meu nível de instrução educacional?
por meus títulos? pelas pessoas com que convivo?
por minhas vontades? minhas escolhas? meus vícios?

Será que se me entendesse e a ela eu falasse de tudo
- não tão somente sobre mim, mas sobre os outros e sobre o mundo,
ela usaria o resto de suas forças e de sua curta vida para fugir e se esconder
ou pouco (ou nada) se importaria e continuaria a confiar em mim?
Estará preparada para as adversidades que à frente dela se impõe,
ainda mais sem a asa que não lhe permitia sustentar o voo?

Se sim ou se não, ela ainda aqui está.
Gira em torno de si mesma;
vai para lá, volta para cá:
não parece saber o que fazer.
Perdida. Bela. Ao acaso.
Frágil e leve,
vulnerável nas mãos da natureza em redor,
a mesma que a ela deu a vida.

- Wiler Antônio do Carmo Jr., 30/03/2018.

______________
'o museu' ('the museum'), em formato digital (eBook) e/ou formato físico: http://www.pensamentosprofundos.com/2018/06/o-museu-amazon-store.html

CONSELHO

conselho




Estuda mesmo, menino! Estuda!

Estude, menino,
mas pegue o gosto por aprender;
não se deixe levar simplesmente
por esse modo martirizado
com que as mais belas descobertas
sobre a natureza e a vida
lhe são ensinadas.
Não rejeite o conhecimento
só porque ele lhe é enfiado goela abaixo como
                                   [as verduras e os legumes,
que, de certo modo, seus próprios pais
lhe ensinaram a não gostar.

Aprenda, menino,
pelo prazer de conhecer e entender
a beleza ainda existente no mundo ao nosso redor.

Aprenda, menino,
pela repreensão,
mas principalmente pela liberdade,
aquela de ser curioso,
de questionar o que jogam na sua cara
como a verdade que não deve ser questionada.
Não me entenda mal,
pois liberdade demais gera violência;
então, menino, aprenda a tê-la
e a usá-la com responsabilidade,
respeitando aqueles que não concordam com você.

Aprenda, menino,
que o dinheiro não é tudo;
que existe uma quantia suficiente
para que você sobreviva
e experimente os prazeres da vida;
e que, além dessa quantia,
você pode se tornar um escravo dele.

Aprenda, menino,
que o mundo é vasto, enorme,
e muito diversificado também;
que nem todos pensam como eu,
como você,
como ninguém.

Aprenda, menino,
que, apesar de não sermos tão especiais
perante o Universo e a Natureza,
como prega a maioria,
devemos ser, e nos fazer,
especiais uns para os outros
por sermos tão iguais
e, ao mesmo tempo,
tão diferentes.

Aprenda, menino,
que, apesar de parecer tão curta
a nossa vida,
quando você chega a uma certa idade
(em que geralmente ainda é tido
como jovem demais e imaturo)
e procura tentar enxergar o quadro inteiro,
é possível ver que o percurso é suficiente
para que você cause um impacto positivo
                                 [na vida de muitos,
desde que você queira.


Wiler Antônio do Carmo Jr., 15/03/2018.

______________

'o museu' ('the museum'), em formato digital (eBook) e/ou formato físico: http://www.pensamentosprofundos.com/2018/06/o-museu-amazon-store.html

domingo, 15 de outubro de 2017

DALI DO FIO CANTA O CANARINHO

Fonte: Freepik

Dali do fio canta o canarinho.
Mais um chamado que um canto.
Canta, canta, canta, canta.
Chama, chama, chama, chama.

E voou.
Foi-se.
Voou pra longe da minha vista.
Sumiu.
Mas não há quem diga que eu
não volte a vê-lo.

Deixou comigo o barulho dos carros,
o vento manso e o canto distante de
outros passarinhos.

Deixou comigo o pensamento
de como seria poder voar.
Voar não com asas de avião,
mas com minhas próprias.

Voar alto e enxergar
aqui embaixo lá de cima,
mesmo à mercê de gaviões,
da maldade do homem,
dos ventos fortes de tempestades
e outros perigos mil.

Poder cortar o ar a piruetas e zigue-zagues,
mudando o ângulo das asas a bel-prazer
e passando precisamente por entre os galhos das árvores,
como todo bom e livre passarinho faz.

Voar.
Não ficar numa gaiola de grades intransponíveis,
que prende, sufoca, machuca.

Gaiola que corrói as entranhas do instinto de liberdade
e força a ver e ouvir os outros passarinhos voarem,
dançarem, cantarem, perambulando para todos os lados
- cá e lá, lá e cá.

Gaiola que força a cantar para agradar o ouvido
e o ego de quem poderia escutar seu canto
mesmo que estivesse no galho de uma árvore
e não num só poleiro.

Gaiola em que se fica preso como um troféu
pela posse de algo esplêndido e raro,
por puro ato de egoísmo.
Ou, talvez, por pura vingança;
vingança por ser tão preso aos padrões que deve seguir
para viver bem em sociedade
que tem de prender quem está livre de tais.
Vingar-se privando da liberdade quem deve ser livre
por natureza.

Gaiola que, depois de tanto tempo tida como lar,
mesmo com a portinhola aberta,
não engatilha mais a vontade de liberdade,
mas, na verdade, o medo de tê-la.

Wiler Antônio do Carmo Jr., 14 de outubro de 2017.