Baseado em uma história real
Era um meio de tarde quente quando o menino saiu de sua casa e cruzou a estradinha, tendo como rumo a Casa Grande. Lá, parou em frente ao paiol, que ficava na quina do éle que a casa formava em meio ao mato baixo.
Na
Casa Grande parecia não estar ninguém. Os trabalhadores da fazenda, que
moravam nas casinhas que ladeavam a Casa, estavam ocupados nas lavouras
de milho, feijão e arroz, que ficavam além das casas, e suas mulheres, dentro de casa ou à beira do Córrego do Balão, lavando roupas.
A
porta do paiol estava apenas cerrada, e o menino sabia disso. Com os
pés descalços subiu os dois degraus de madeira que davam para a porta e
deu nela um empurrão com as pequenas mãos. A luz do dia entrou e revelou uma montanha de espigas de milho secas.
Os
olhos do menino brilharam enquanto ele arrastava os pezinhos pelo
estrado em direção ao que para ele era uma maravilha. Aquela montanha
tinha mais de duas vezes a sua altura, quase alcançando o teto do
cômodo.
Boquiaberto,
ficou por alguns minutos olhando aquele mundaréu de espigas. De
repente, voltou a si; tirou do bolso uma caixinha de fósforos e dela o
primeiro palito que seus dedinhos encontraram. Era a primeira vez que
acendia um palito de fósforo, mas sabia que sabia como acendê-lo; já
tinha visto o pai acendendo milhares deles. Tão orgulhoso estava de
tanto conhecimento que achava ter na cachola, que seu coração nem
palpitou ao se aventurar naquele grande pequeno feito. Agachou-se
ao pé da alta montanha e riscou a lixa da caixa com a ponta do palito
de fósforo. Quando as pequenas faíscas geradas pelo atrito deram vida à
pequena chama, o menino a aproximou da palha de uma das espigas. A chama
dominou aquela espiga rapidamente e se espalhou para as que estavam em volta.
Quando
o fogo se alastrou até a metade da montanha, o menino arregalou os
olhos e seu coração palpitou. Com um pulo alcançou a porta, com outro
desceu a escada e foi se esconder atrás de uma árvore do outro lado da
estrada.
A
mulher que viu o menino sair do paiol foi a mesma que correu para o
lado do Córrego e das lavouras em busca de ajuda. Imediatamente, as
mulheres das outras casas pegaram seus baldes de madeira e seguiram pelo
mesmo caminho que a primeira. Os homens que estavam nas lavouras
deixaram de lado as enxadas, tomaram das mulheres os baldes e os
encheram de água no Córrego. Foram muitas idas e vindas com baldes
cheios e vazios até que se extinguissem as labaredas que já lambiam por fora as telhas de barro que cobriam o paiol.
Quando a noite chegou, com o fogo apagado e o grande aperto passado,
o caso já era motivo de risadas, apesar da perda de todo o milho que
estava no paiol. A mulher que vira o culpado pelo fogo contou ao pai
dele, que era um dos que estavam nas lavouras, para onde ele correra, e
foi lá mesmo, atrás da árvore, que ele foi encontrado.
O pai chegou rindo em vez de ralhando, enquanto o menino, encolhido junto ao tronco da árvore, tremia dos pés à cabeça. Agachou-se em frente ao filho e perguntou:
- Meu filho do céu, como foi que você pôs um fogo grande daquele jeito?
O
menino levantou uma mãozinha trêmula - a mesma que segurara o palito de
fósforo -, distanciou um pouco o polegar do indicador e respondeu:
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