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"Estamos habituados a ver nas confissões dos acusados de feitiçaria o fruto da tortura e das sugestões feitas pelos juízes e a lhes negar, por conseguinte, qualquer espontaneidade. Mais precisamente, as investigações fundamentais de J. Hansen mostraram como a imagem da feitiçaria diabólica, com todos os seus acessórios – pacto com o diabo, sabá, profanação dos sacramentos – foi sendo elaborada, entre meados do século XIII e meados do XV, por teólogos e inquisidores, para depois difundir-se progressivamente, através de tratados, sermões, imagens, por toda a Europa e, mais tarde, até mesmo para além do Atlântico. Essa difusão [...] realizou-se de forma particularmente dramática no próprio curso dos processos, modelando as confissões dos acusados graças aos dois instrumentos já mencionados: a tortura e os interrogatórios 'sugestivos'." (pág. 8)
"Os ritos que os benandanti afirmavam realizar nos seus encontros noturnos são ritos que quase não é necessário interpretar, tão explícito e manifesto é o seu significado, já que não se trata aqui de superstições cristalizadas e repetidas mecanicamente, e sim de ritos intensa e emotivamente vividos. Os benandanti armados com ramos de erva-doce que lutam contra bruxas e feiticeiras munidos de caules de sorgo sabem estar combatendo 'por amor das colheitas', para assegurar à comunidade a opulência das messes, a abundância dos víveres, dos cereais miúdos, das vinhas, de 'todos os frutos da terra'. É um rito agrário que conservou uma extraordinária vitalidade quase no final do século XVI, numa zona marginal, menos alcançada pelas comunicações, como era o Friul. A que época remontam as suas origens não podemos saber. Desde já, porém, se percebe a complexidade do culto do qual o rito é a expressão." (pág. 44)
📚 GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII (1966), trad., São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
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