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Fonte: Freepik
Dali do fio canta o canarinho.
Mais um chamado que um canto.
Canta, canta, canta, canta.
Chama, chama, chama, chama.
E voou.
Foi-se.
Voou pra longe da minha vista.
Sumiu.
Mas não há quem diga que eu
não volte a vê-lo.
Deixou comigo o barulho dos carros,
o vento manso e o canto distante de
outros passarinhos.
Deixou comigo o pensamento
de como seria poder voar.
Voar não com asas de avião,
mas com minhas próprias.
Voar alto e enxergar
aqui embaixo lá de cima,
mesmo à mercê de gaviões,
da maldade do homem,
dos ventos fortes de tempestades
e outros perigos mil.
Poder cortar o ar a piruetas e zigue-zagues,
mudando o ângulo das asas a bel-prazer
e passando precisamente por entre os galhos das árvores,
como todo bom e livre passarinho faz.
Voar.
Não ficar numa gaiola de grades intransponíveis,
que prende, sufoca, machuca.
Gaiola que corrói as entranhas do instinto de liberdade
e força a ver e ouvir os outros passarinhos voarem,
dançarem, cantarem, perambulando para todos os lados
- cá e lá, lá e cá.
Gaiola que força a cantar para agradar o ouvido
e o ego de quem poderia escutar seu canto
mesmo que estivesse no galho de uma árvore
e não num só poleiro.
Gaiola em que se fica preso como um troféu
pela posse de algo esplêndido e raro,
por puro ato de egoísmo.
Ou, talvez, por pura vingança;
vingança por ser tão preso aos padrões que deve seguir
para viver bem em sociedade
que tem de prender quem está livre de tais.
Vingar-se privando da liberdade quem deve ser livre
por natureza.
Gaiola que, depois de tanto tempo tida como lar,
mesmo com a portinhola aberta,
não engatilha mais a vontade de liberdade,
mas, na verdade, o medo de tê-la.
Wiler Antônio do Carmo Jr., 14 de outubro de 2017.